História
A segunda Guerra Mundial: E o Brasil vai à Guerra.
A cobra está fumando
No dia 18 de julho de 1945, aportou no Rio de Janeiro o navio General Neighs, trazendo
de volta ao país os primeiros brasileiros veteranos da Segunda Guerra Mundial.
Dos 25.334 homens que durante 239 dias lutaram ao lado dos Aliados nos campos da
Itália, 465 haviam ficado enterrados em Pistóia. Cerca de 1.500 voltavam
mutilados e feridos - como o capitão Hélio de Aquarela do Brasil.
A recepção aos heróis do Brasil foi uma festa de parar as capitais:
desfiles tomaram conta das avenidas, chuvas de papel picado caíam sem parar
dos edifícios e saudações eufóricas ecoavam das rádios.
Nunca se viu nas ruas tantos beijos e abraços emocionados.
O Brasil declarara guerra ao Eixo em 31 de agosto de 1942 - depois de ter vários
de seus navios torpedeados e afundados pelos alemães -, mas a decisão
de enviar combatentes foi determinada só em 9 de agosto de 1943.
Desde junho desse mesmo ano, no entanto, oficiais superiores vinham sendo treinados
em cursos de Estado-Maior de Emergência nos Estados Unidos.
A Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi formada por 25.267 homens
e 67 mulheres (enfermeiras), dos quais 15.069 formaram a tropa de combate.
Sob comando do general Mascarenhas de Morais, a FEB se incorporou ao 4o Corpo do
Exército Americano, que por sua vez integrava o 15o grupo de Exércitos
Aliados.
"A cobra está fumando" foi a divisa adotada pelos pracinhas, numa
ironia a um ditado que dizia ser mais fácil ver uma cobra fumar do que o
Brasil entrar na guerra.
Já a Força Aérea Brasileira (FAB), que esteve na guerra com
um grupo de pilotos de caça, tinha o lema "Senta a pua".
Primeiro embarque
O projeto inicial era mandar tropas brasileiras para a África, mas com a
vitória dos aliados ali em maio de 1943, elas foram então enviadas
para a Itália. O primeiro embarque de cinco mil homens ocorreu em 30 de junho
de 1944, no Rio de Janeiro, no navio americano General Mann.
Os pracinhas chegaram desarmados à Itália, e só no início
de agosto receberam armas e equipamentos mais modernos. Era o início de muitas
dificuldades. O padrão militar adotado no Brasil era francês, o que
exigiu da FEB um rápido treinamento para adaptação à
doutrina, ao armamento e aos equipamentos americanos.
Ajustes de Emergência
Foi preciso também preparar melhor as tropas, ajustar-se ao rigor do inverno
e superar as críticas dos americanos, que consideravam os brasileiros carentes
de adestramento militar, de instrução e sem preparo físico.
A bravura dos pracinhas, no entanto, nunca fora questionada.
O primeiro encontro dos brasileiros com o inimigo aconteceu em 16 de setembro de
1944. Os combates da FEB passaram por quatro fases: no Vale do Arno, na margem oeste
do Reno, nos Apeninos (incluindo Monte Castelo) e no Vale do Pó.
A batalha para a tomada de Monte Castelo, que caiu em 21 de fevereiro de 1945 após
três tentativas fracassadas, foi o ponto alto da ação bélica
brasileira na Itália.
O combate teve início às 5h30 e terminou às 17h30, com os primeiros
soldados do Regimento Sampaio alcançando o topo do morro. Foram 87 baixas
do lado brasileiro e 23 do alemão.
Em 5 de março, foi tomada Castelnuovo, e em 14 de abril foi a vez da dura
batalha de Montese, onde a FEB teve 426 baixas, mas venceu. Dali a FEB tomou Zocca
em 21 de abril, e dias depois Marano e Vignolia, na Planície do Pó.
Rendição da divisão alemã
Os pracinhas obtiveram em seguida a rendição, perto de Parma, de uma
divisão alemã inteira - dois generais e 14.779 homens, fora armamentos,
munição e alimentos, - a vitória em Alessandria, perto de Turim,
em 30 de abril, até se encontrarem com os franceses em Susa, perto da fronteira
da Itália com a França. Era o fim da campanha do 5o Exército.
A FEB enfrentou na guerra 10 divisões alemães e 3 italianas, fez mais
de 20 mil prisioneiros e teve 35 aprisionados, capturou 80 canhões e 1.500
viaturas, avançou mais de 400 km em território italiano e libertou
dezenas de cidades e vilas. A FAB cumpriu mais de 400 missões, destruindo
2 aviões, 25 pontes, 85 posições de artilharia, 13 locomotivas
e centenas de vagões e 3 refinarias, entre outros objetivos militares.
Ao retornarem ao Brasil, os heróis brasileiros encontraram um país
ainda em contradição: o mesmo Brasil que lutara contra o totalitarismo
mantinha internamente um regime autoritário sob o controle de Getúlio
Vargas.
Os tempos eram outros e a realidade do país em breve mudaria.